Nos anos 1990, um movimento nascido em Washington, nos Estados Unidos, usou música e publicações independentes para espalhar uma mensagem de empoderamento feminino. O riot grrrl (algo como garota raivosa) permitiu às mulheres se expressarem e serem protagonistas da cena punk e hardcore, além de abrir caminho para o sucesso de bandas 100% femininas (ou encabeçadas por mulheres) nos anos seguintes. Quase três décadas após o início do movimento, a cineasta Letícia Marques, de Florianópolis, está dirigindo o documentário Faça Você Mesma, que vai mostrar como era a cena da música independente e a história de bandas de essência punk e feminista brasileiras. Até o dia 4 de setembro, há uma campanha de financiamento coletivo aberta via Catarse para quem quiser ajudar a equipe a terminar a produção.
— Comecei com recursos próprios e ajuda de voluntários, a gente está fazendo cinema independente de guerrilha. Aqui em Floripa não existia exatamente uma cena, mas eu morava aqui aos 16 anos, quando me deram a primeira fita cassete do Dominatrix (uma das bandas brasileiras mais importantes do movimento). Era uma coisa pequena, mas a gente se encontrava para ir nos festivais, tinha uma união entre as meninas. Mas é mais focado em São Paulo porque a cena se deu lá — explica Letícia.

O filme, que tem produção de Patricia Saltara, resgata histórias de grupos como TPM, Hitch Lizard, The Biggs, The Hats, Hidra, The Dealers e Comma por meio de conversas com integrantes e fãs que viveram o movimento. De Florianópolis, há entrevistas com mulheres como a professora Michelle Pinha, que promovia oficinas sobre sexualidade femininas, e Cristine Clasen, baixista da banda Canivettes. Além da relevância musical, o riot grrrl também foi o primeiro contato de muitas garotas com o feminismo. As letras das músicas falavam de temas como empoderamento feminino, igualdade, relações abusivas, estupro e sororidade, por exemplo.
— No filme gente também busca os desdobramentos desse movimento. Onde o riot grrrl e o feminismo está na vida dessas mulheres hoje. Em Santos, filmamos duas irmãs que tinham banda e hoje têm um grupo de defesa pessoal feminina, por exemplo. Acho que as entrevistadas conheceram o riot grrrl porque queriam fazer música, acabaram conhecendo o feminismo, e depois foram buscar a teoria — acredita a diretora.
Assista à promo:
Até Kathleen Hanna (das bandas Bikini Kill, Le Tigre e Julie Ruin), cantora, ativista e um dos ícones do movimento riot grrrl nos Estados Unidos, compartilhou a campanha em seu perfil no Facebook.
— Mandei uma mensagem para ela falando sobre o filme e a cena do Brasil. Muitas entrevistadas citam que ouviram pela primeira vez o termo pelo Bikini Kill. Fico feliz que o filme esteja criando esse primeiro contato. Quero levá-lo lá para fora e buscar essas pessoas que estavam no movimento para assistir ao filme lá, para essas mulheres que foram tão influentes para as daqui. Essa troca seria interessante — finaliza Letícia.

Como ajudar
Há várias recompensas para os apoiadores, que variam de acordo com os valores das contribuições. A partir de R$ 20, por exemplo, há a inclusão do nome de quem colaborou nos créditos do filme. Até R$ 5 mil, a doação máxima, o apoiador se torna produtor executivo do documentário. O projeto também dá a opção de colaborações intermediárias como a de R$ 50, que dá direito a imagens de arquivo e link com conteúdos extras do filme. A meta total da campanha é R$ 30 mil e até agora foram arrecadados 30% do valor.
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